25 março 2008

"Vida Simples"

numa terça feira ensolarada,
após um banho de mar gelado,
a loira de salto alto,
me olhou ao passar pelo bar

eu só rio

os amigos se divertiram,
talvez por causa da cerveja
ou das lembranças trazidas
pelo samba da outra mesa

depois que a cachaça abre o apetite,
peço filé à campanha, farofa e pimenta
pra saciar a fome e agradar o paladar
(e goiabada cascão pra arrematar)

envolto na fumaça do charuto
o fortíssimo café puro
adoça a minha goela.

não troco nenhum passo
isso hoje não é problema
vou para casa cedinho
pro amor da minha morena.

o troco vai pra caixinha
(que hoje não está rasa),
garantindo outra saideira,
sempre por conta da casa.

não quero muito:
só saldo e tempo,
suficente e ocioso

-- juan otoya

12 março 2008

"Elegia à eletiva"


deste aqueduto,
correram tantas águas;
sob estes arcos
escorreram tantas mágoas;

marco da minha cidade
parte da minha rotina
monumento sem idade
marcado em minha retina

um arco em minha íris
me traz boas memórias
de dias felizes e de noites de glória

mas o tempo passa
sem parar
sem levar
quem fica para trás
todo dia
cada ida
sem volta

elevou-se em mim uma angústia pelo que não há mais de ser

assim, sem saída para o que não tem fim,
busco numa estúpida elegia
o consolo da poesia
no reverso da saudade

a alegria verdadeira !
a lembrança ainda viva !
de toda sexta-feira
naquela eletiva !

03 março 2008

"Partida Sem Despedida"

Aproxima-se minha partida
e peço aos amigos meus:
na hora da despedida,
não me venham com 'Adeus'

como quem persegue o que gosta,
(sem saber se passa ou se acampa)
como quem faz uma grande aposta,
vou-me embora para sampa.

Vou ali só um instante
(que talvez demore a passar)
não sou um nômade errante,
mesmo distante, não perco-me do meu lar
(metrópole fascinante onde as montanhas beijam o mar).
Sendo um bom filho, deixo minha casa para um dia retornar


viajo leve
pois volto em breve:
deixo a praia
deixo o morro
deixo a sunga
levo o gorro

é claro que terei saudades,
afinal esta é minha cidade!
E me fará falta tudo que a torna maravilhosa:
as meninas, a lapa, o tricolor e a verde-e-rosa

o que nunca esqueço,
não importa aonde eu for,
é que tendo o Rio por berço,
sou abençoado pelo Redentor.

Aproxima-se minha partida
e aos meus amigos eu rogo:
na hora da despedida,
no máximo um 'até logo'

-- Juan Otoya