07 fevereiro 2011

"Fogo no Barracão"

Numa manhã de fevereiro,
em plena segunda feira
tirando o sono da escola
um presságio acordou madureira.

coletivo sonho sinistro,
pesadelo, suor e arrepio:
nuvens negras de fuligem
tornavam o horizonte sombrio.

nem o sol clareava o denso fumo cobrindo a baía
era breu na guanabara quando o dia amanhecia

oswaldo cruz se levantou
olhando pro céu da cidade;
confirmou-se o mau sinal
temido na comunidade:

fogo no barracão
a um mês do carnaval
"quase tudo pronto!"
o desespero era geral

fogo no barracão!

no chão os sonhos em chamas
na rainha, o assombro no rosto
a beleza tornando-se escombro
a costureira desaba em desgosto

fogo no barracão!

se vê na imensa fogueira o abre-alas da escola
a porta bandeira soluça,
o mestre sala consola

fogo no barracão!

flutuando dispersa no ar
naquela nuvem de poeira
não se pode reconhecer
o voo da águia altaneira

e o silencio no barracão
não dura nem um minuto
o azul e branco virou cinza
mas a escola rejeita o luto

O fogo não cala o samba e o surdo jamais emudece
pois o carnaval é justamente a festa onde sorri quem padece

a escola pisará na avenida
portando um traje singelo
desfilará sua majestade
usando bermuda e chinelo

-- Juan Otoya

02 fevereiro 2011

"Dois de Fevereiro"

Sobre a pedra polida do Arpoador
o pescador agradece entoando um canto
deixa palmas como oferenda singela
fita o mar prateado: espraiado manto

banha-se sem pressa nas marolas
filtra o corpo nas brumas salgadas
expurga na espuma as desventuras
(se vê no espelho com força sagrada)

emerge solene o marujo
tendo afundado as mágoas
tem em si a maior proteção:
o início do ciclo das águas

navega sereno seu barco
celebra igual todo ano
festeja, canta, agradece:
"Salve, rainha do oceano!"

--Juan Otoya

01 fevereiro 2011

sobressalto noturno

"em sonho acordei do sono que sentia quando dormi: me vi só e senil
despertei sobressaltado, sobre teu seio suado e ainda febril"

-- Juan Otoya