09 dezembro 2023

"circular"

 volta

 

quando vadio

me esvazio de quem não sou

quando vago

me encontro

quando não estou

verdadeiramente sou

 


ida

 

quando passo

não estou nem aí

nem acolá

(nunca me acho

se não me perco)

sou de onde venho

onde vou, estarei

me integro ao caminho:

sou a paisagem de passagem:

ou era

ou fui


-- juan do rio

"ímpeto"

 o que é todo esse ímpeto?

que urge dentro de mim?

mais

mais isso,

mais aquilo,

mais tudo,

mais!

mais

e mais nada?

preencho o q falta?

(o q falta?)

ou o que sobra excede?

o que excede

(o que sobra?)


-- juan do rio

"a incerteza que não existe"

 A impermanência

permanecerá

impermeável

à nossa sondagem

estanque

imóvel

em constante fluxo

sendo em si

o que tudo poderia ser

até que mais nada seja

ainda então

permanecerá:

o que nunca é

e sempre está


-- juan do rio

"torrente urbana"

 

a nuvem cinza chumbo

se desfaz em sua totalidade de gotas

que juntas dobram

galhos esbeltos

esquinas em valas

valetas sem grelhas

bocas de rio acima

onde o mar

que cai do céu

espera cada gota


-- juan do rio

"ofício"

 colo fragmentos

com a saliva da tinta

esculpo a língua

descubro versos de órbitas úmidas

canto estrelas desconsteladas

vulcões lavando amores petrificados:

lábios trêmulos da palavra certa


-- juan do rio

08 julho 2023

"nunca tempo pra nada"

 27NOV15

PERDIZES


mala pronta pra friburgo

roupa batendo

quarto varrido

esperando a hora do bus

agora (e sempre)

que tenho nada pra fazer

(e posso enfim fazer nada)

faço alguma coisa também

inclusive não

porque,

nem sempre,

estamos

prontos

a ponto

em ponto

pra nada


-- juan do rio

"a vela"

 a vela

no vento

se consome

some


-- juan do rio

desembrulho

num canto esquecido

guardei imprensado

entre colunas amassadas

uma batida abalada

(não por repulsa)


o tempo desfaz 

a antiga impressão


de notícias velhas

e ainda não passado

desembrulho meu coração

enfim madurado


-- juan do rio

"xapiri"

 qual xapiri

(r)estará aqui?


-- juan do rio